"Decididamente as saudades não são como o clima.
Quando está calor, não conseguimos imaginar como era quando tínhamos frio. Nem prever o que sentiremos novamente quando os termómetros baixarem. Da mesma maneira, temos dificuldade em imaginar o que é ter calor ao tiritarmos de frio na paragem do autocarro.
Mas com as saudades é diferente. Conseguimos senti-las por antecipação, quando ainda temos a pessoa à frente, estamos sentados na cadeira (...) que vamos deixar ou no banco do jardim que julgamos nunca mais voltar a ver. Sentimos o mesmo nó na garganta, a mesma sensação de que a vida não tem graça sem aquela pessoa, ou aquela coisa e todos os outros sintomas que só os poetas a sério conseguem descrever sem serem pirosos.
Há ainda as saudades a posteriori, se possível as mais esquisitas. Por vezes tem-se saudades das crianças quando se ouve a sua voz ou lhes passamos a mão pelos cabelos.
Há ainda as saudades que temos lá dentro, mas de que só nos apercebemos quando cheiramos determinado perfume ou cruzamos os olhos com alguém que nos lembra outro alguém.
É estranho, mas as saudades são estranhas.(...)"
Isabel Stilwell
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